12 razões para errar e valorizar os erros que cometemos, todos os dias, em nossas vidas
1. ERRAR É APRENDER. Todo erro já é um aprendizado. Ao sermos capazes de identificar algo como “errado”, seja um erro nosso ou fora da gente, a percepção se transforma. Quando a percepção se transforma, ampliamos nosso terreno conhecido, isto é, aprendemos. Ainda assim, se vamos de fato implementar as consequências daquilo que aprendemos ao errar, ou se vamos insistir na atitude errada, cabe a nós decidir.
2. TAPA NA CARA. O erro nos faz perceber de maneira mais rica a realidade. O real tem uma força desmedida e incomparável. Nada se assemelha ao poder, que emerge na confrontação apreciativa da realidade, de enxergarmos o que é, e isso significa sempre dizer, o que está sendo. O erro é a sua mente, ou as concepções antigas dela, dando de cara com o real. Doloroso? Sim. Mas fundamental.
3. TODO PONTO DE VISTA É A VISTA DE UM PONTO. O que se considera “errado” só é visto assim segundo determinado ponto de vista. Não nos esqueçamos nunca: a realidade é sempre vista por alguém. Certa vez, li uma história de duas pessoas que se encontraram pela primeira vez em um baile de máscaras. A “química” foi imediata e elas passaram a noite juntas. No outro dia, ao acordarem e conversarem, foram compartilhando suas histórias de vida, até chegarem a uma conclusão assustadora: eram irmãos. De repente, tudo que viveram foi absolutamente condenado no interior da mente de ambos, que nunca mais se viram. Terem vivido uma paixão foi um erro? Na cabeça deles, sim, e dos grandes. Mas só foi porque o caldo cultural com o qual elas foram banhadas desde o berço lhes dizia isso. Se começarmos a enxergar os erros a partir de diferentes perspectivas, cada qual com seus ingredientes culturais e históricos, talvez isso nos faça perceber que nenhum erro é total.
4. HÁ BELEZA NO ERRO. Provavelmente, você já se deparou com alguém falando sobre a técnica kintsugi, uma arte de cerâmica que utiliza ouro para reparar vasos quebrados. Vejamos o que a ceramista sul-coreana Yee Sookyong, adepta da técnica, diz a respeito:
Para mim, um pedaço de cerâmica quebrada encontra outro pedaço, e eles começam a confiar um no outro. As rachaduras entre eles representam as feridas. O trabalho é uma metáfora da luta da vida, que faz das pessoas mais maduras e belas quando superam suas dores.
Conceitualmente, essa forma de arte aproxima-se do significado de wabi-sabi, uma visão de mundo de origem japonesa que afirma: “nada dura, nada é completo, nada é perfeito”. Em seu ótimo artigo sobre wabi-sabi, Jamie Brisick finaliza citando uma passagem do escritor e músico canadense Leonard Cohen: “existe uma rachadura, uma rachadura em tudo. E é assim que a luz consegue entrar”.
5. ERRAR É HUMANO. Na linha do que diz a definição de wabi-sabi, cometer um erro é a maneira mais fácil, e ao mesmo tempo mais contundente, de chamar a atenção para nossa impermanência, incompletude e imperfeição. Isso é um lembrete de humanidade pulsante. Nossa sede de acerto logo após errar, porque as pessoas também acertam muito, é sim um reflexo do nosso ego, mas é, simultaneamente, nosso desejo de servir à sociedade, de contribuir para o bom funcionamento do universo. Que tenhamos presença de espírito para, na ânsia de querer acertar, não condenarmos o erro, porque é ele que nos lembra, imediatamente, do quão humanos somos. E, sendo humanos, inconclusos por excelência, que saibamos nos ajuntar com outras pessoas para nos completar, e que tenhamos bom-humor para aceitar a existência, impossível de ser corroída, do erro em nossas vidas.
6. ZONAS DE EMERGÊNCIA. É óbvio que um erro, que é sempre a percepção de um erro, inaugura a possibilidade de acertar. Um erro não é um erro até que alguém o identifique, tendo a humildade de dizer “eu errei!”, ou a criticidade para afirmar “isso está errado”. Fazer algo de um jeito errado nos dá a chance, a oportunidade, o momento ótimo para implementar mudanças. É como se o tempo e o espaço, após o erro, se abrissem a um novo domínio de possíveis, e este é um novo tempo, uma “zona de emergência” que atua como um gêiser, retirando com força a água de dentro da terra.
7. YING E YANG. Erro e acerto travam entre si uma relação dialética. Isso quer dizer que um não existe sem o outro. Ao considerarmos algo como errado, estamos fazendo isso sempre a partir de um referencial do que nos parece certo. Compreender que erramos nos ajuda a ter clareza do que nos soa correto, e isso, em momentos de confusão, por si só já é uma grande coisa. Por outro lado, se percebemos que o referencial de acerto dentro da gente está mudando, modifica-se também o que entendemos por erro. Talvez, em certas situações, o convite da vida seja não que paremos de “errar”, mas que troquemos o referencial.
8. PERDER-SE FAZ PARTE DA VIAGEM. Erros geralmente significam desvios de trajeto, isto é, realidades que não correspondem às expectativas que alimentamos. Na verdade, isso pode ser muito interessante. Provavelmente, você já se perdeu em alguma viagem, e existe uma boa chance de que isso tenha feito você descobrir paisagens exóticas, inesperadas, vivas. Desviar-se é atividade costumeira para o viajante, assim como para quem aprende pelas vias da experiência e da descoberta. Se não ficamos perdidos com alguma frequência, é sinal de que nos congelamos em nossas certezas, isto é, nos desumanizamos.
9. PADRÕES. Quando erramos repetidas vezes, ou quando detectamos erros frequentes, isso pode nos fazer perceber padrões. Um padrão costuma carregar uma mensagem importante, nem sempre ouvida: “olhe para mim, estamos precisando de uma certa atenção aqui! Talvez uma mudança importante seja necessária!” Uma leitura atenta dos padrões, que nos apresentam a nós por meio de erros sucessivos, é crucial para evitar que erros mais catastróficos aconteçam.
10. RESISTIR À TENTAÇÃO. Detectar um erro e superá-lo faz de nós pessoas mais resilientes. E resiliência, uma palavra que infelizmente foi entorpecida pelos manuais de administração e livros de autoajuda, continua sendo uma capacidade muito importante. Até mesmo Manoel de Barros, poeta pantaneiro que escrevia sobre o inútil, o chão e as irrelevâncias, acordava cedo todos os dias para superar o erro que seria não escrever poesia. Manoel era resiliente justamente porque agia conforme seu coração mandava. Era um funcionário dedicado, mas também era seu próprio chefe. O coração da gente às vezes nos diz para admitirmos o erro, o que significaria a primeira condição de sua superação, mas a parte mais levada da mente é muito levada e, não raro, insiste em desobedecê-lo.
11. “EU ERREI!” Admitir um erro e comunicar isso publicamente, em um gesto de humildade e vulnerabilidade, é talvez uma das atitudes que nos conecta de forma mais profunda às outras pessoas. É como se, ali, o outro conseguisse “apalpar” a nossa humanidade, de tão concreta que ela se faz naquele momento. Mudanças muito positivas podem decorrer daí, porque o reconhecimento do que fizemos de errado é também a superação do medo de ir contra nosso ego, e isso contagia a todos. Além disso, ao dizer com todas as letras que erramos, as outras pessoas ficam sabendo, e se ficam sabendo, ganham a possibilidade de nos ajudar. E essa ajuda pode ser essencial não apenas para o erro não ser cometido novamente, mas para desvelar novos modos de pensar, novas relações, novos jeitos de fazer, enfim, novos mundos.
12. ENCARANDO OS ERROS COMO UM CIENTISTA. É possível gerar, deliberadamente, experimentos que favorecem o aparecimento de erros, para que as “zonas de emergência” de acertos também se apresentem o mais rápido possível. Errar rápido, barato e com pouca gente envolvida nos faz economizar tempo, dinheiro e frustrações. No design, isso é chamado de prototipação, uma estratégia para aproveitarmos ao máximo os erros e, a partir deles, gerar um movimento corajoso de transformação.