7 Tipologias e 16 Exemplos Reais de Comunidades de Aprendizagem Autodirigida

Alex Bretas
5 min readSep 18, 2020

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Faz vários anos que venho estudando e criando o que chamo de “comunidades de aprendizagem autodirigida”. Um caminho para compreender o conceito é analisá-lo em partes separadas:

  • Comunidade: “lugar” onde as pessoas se conectam profundamente umas com as outras e também a um propósito comum. Fontes de pertencimento e criação de valor coletivo.
  • Aprendizagem: “botar pra fora” o conhecimento fazendo algo melhor do que antes (agradeço ao Conrado Schlochauer por essa definição). Mudar a si mesmo numa direção percebida como positiva.
  • Autodirigida: conduzir o próprio caminho (de aprendizagem) com autonomia e assumir responsabilidade por ele. Ser o protagonista da própria história. Tomar decisões e agir sem se submeter.

Existem muitos exemplos de comunidades de aprendizagem autodirigida no mundo, ainda que nem todas utilizem o termo. No final deste texto, criei uma lista com várias delas.

Antes disso, porém, quero propor uma forma de distinguir diferentes “tipologias” aplicáveis a essas comunidades. Cada uma delas aborda um aspecto diferente que considero relevante para compreender como essas iniciativas operam.

Meu objetivo não é esgotar o assunto — é uma investigação em curso! — , e sim te ajudar a ter mais clareza sobre como tais comunidades se manifestam na prática.

Tipologia 1: Público-alvo

  • Comunidades restritas para (ou focadas em) públicos específicos (por exemplo, uma comunidade somente para mulheres negras ou somente para mães com bebês de até 1 ano)
  • Comunidades intergeracionais
  • Comunidades com faixa etária específica (por exemplo, somente para crianças ou somente para pessoas com mais de 18 anos)
  • Comunidades abertas para qualquer pessoa

Obs.: a entrada de novos membros pode ser totalmente livre ou pode haver alguma forma de seleção específica.

Exemplo real: o UnCollege Brasil, organização na qual trabalhei anos atrás, admitia apenas pessoas entre 18–32 anos em um de seus programas.

Tipologia 2: Tema

  • Comunidades temáticas (por exemplo, uma comunidade focada no aprendizado sobre física quântica ou sobre inovação organizacional)

Obs.: comunidades temáticas podem ter temas muito amplos (é o que chamo de “guarda-chuva temático”) ou temas muito específicos.

  • Comunidades generalistas (comunidades que acolhem pessoas com o desejo de aprender sobre coisas muito diferentes entre si)

Obs.: comunidades generalistas são como um “clínico geral”, ou seja, elas possibilitam uma abrangência maior, mas também costumam aprofundar menos.

Exemplo real: o Masters of Learning é uma comunidade generalista.

Exemplo real 2: a Comunidade Novas Economias, que facilitei dentro da Multiversidade, foi um caso de comunidade temática com tema amplo (novas economias é um “guarda-chuva” que pode se desdobrar em vários percursos de aprendizado diferentes).

Tipologia 3: Tempo de existência

  • Comunidades perenes: duram por tempo indeterminado
  • Comunidades “pop-up”: tem um momento específico para acabarem

Obs.: escrevi um texto abordando as comunidades pop-up que pode ser acessado neste link.

Exemplo real: o Masters of Learning foi projetado para ser uma comunidade pop-up que terminaria na data de encerramento do programa, mas está em transição para ser uma comunidade perene a pedido dos participantes.

Tipologia 4: Modalidade

  • Comunidades presenciais
  • Comunidades digitais/online
  • Comunidades híbridas (presenciais e digitais)

Exemplo real: vários ALCs (Centros de Aprendizagem Ágil) ao redor do mundo são comunidades de aprendizagem autodirigida presenciais, mas durante a pandemia precisaram migrar para o ambiente digital ou híbrido (assim como grande parte das escolas).

Tipologia 5: Formato/métodos

  • Open Space/ALC: os membros se reúnem para criar a agenda de atividades de aprendizado e, em seguida, executam essa agenda (entendendo que ela não é engessada e pode se transformar a qualquer momento)

Obs. 1: geralmente, esse formato se apoia em dinâmicas do tipo “pedidos e ofertas”.

Obs. 2: geralmente, é um formato que potencializa mais a aprendizagem coletiva do que a individual.

  • Jornadas individuais apoiadas pela comunidade: cada pessoa conduz um percurso de aprendizagem próprio e encontra na comunidade recursos e ajudas para seguir com sua jornada
  • Grupo de estudos: os membros selecionam determinados materiais para estudar (por exemplo, um livro) e criam um planejamento/cronograma para realizar isso
  • Encontros com convidados: os membros se organizam para convidar especialistas e demais pessoas que podem contribuir com os tópicos de interesse da comunidade

Exemplo real: o Masters of Learning foi uma combinação dos formatos “jornada individual” e “encontros com convidados” (talks). Durante o processo, os formatos “Open Space/ALC” e “grupo de estudos” também emergiram — ou seja, uma comunidade de aprendizagem autodirigida pode se valer de uma mistura desses (e outros) formatos.

Exemplo real 2: o Enrol Yourself é um projeto bastante ancorado no formato de “jornada individual”.

Tipologia 6: Liderança/decisões

  • Comunidades com liderança fixa
  • Comunidades com liderança rotativa
  • Comunidades que adotam processos decisórios participativos
  • Comunidades que praticam autogestão

Obs.: mesmo em comunidades com liderança rotativa, processos participativos ou autogestão, a figura dos iniciadores sempre terá alguma influência.

Exemplo real: o Masters of Learning teve uma liderança fixa até a finalização oficial do programa, e agora está fazendo uma transição para um modelo de liderança rotativa.

Exemplo real 2: durante um bom tempo, o GINEGrupo de Investigadores da Nova Educação — , grupo que facilitei por dois anos, adotou um processo participativo na construção da agenda dos encontros.

Tipologia 7: Foco

  • Comunidades com foco no estudo
  • Comunidades com foco na ação

Obs.: a fim de maximizar o aprendizado, penso que o ideal deve ser uma mescla entre estudo e ação (talvez de maneira intercalada).

Exemplo real: comunidades de prática (comuns em empresas) e grupos de conversação em inglês ou outros idiomas em geral são focados em ação.

Exemplo real 2: clubes de leitura podem ser considerados comunidades focadas no estudo.

Lista de comunidades de aprendizagem autodirigida

Existem milhares de outras comunidades de aprendizagem autodirigida espalhadas por aí. E eu acredito que elas representam um caminho poderoso para revolucionar a educação.

Que tal criar a sua?

Publicado originalmente em www.alexbretas.com.

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Alex Bretas

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.