A sua saudade é lamento ou gratidão?
Talvez todes tenhamos algumas ideias que nos acompanham, daquelas que moldam nossas vidas de uma forma bem poderosa.
São como brotos de vida em meio à aridez. Corrimões para segurar quando as realidades desmoronam.
“Saudade como gratidão” é uma dessas ideias pra mim.
Às vezes — muitas vezes –, nossa saudade é um lamento. Um grito silencioso. Um aperto no peito ou até mesmo uma série de respirações mal assombradas.
E tatu do bem que seja assim. (xô, positividade tóxica!)
Lamentar as ausências pode ser tudo que está disponível para você agora.
Só vai. Deixe isso te atravessar por completo. É importante.
Ao mesmo tempo, é maravilhoso perceber os múltiplos e pequenos fios de saudade-gratidão nos envolvendo gentilmente, como se ali voltássemos, ainda que por um breve instante, ao aconchego do útero de nossa mãe.
A saudade que agradece é sobre saborear as boas memórias sem pedir que elas voltem.
É assistir de novo aquele filme que você já sabe o final simplesmente pelo gozo de rever suas cenas preferidas, sem a pretensão de torná-las reais.
É criar uma linda mandala com os sons, o toque e as histórias que uma vez te atravessaram, para então poder destruí-la com carinho, como os monges tibetanos fazem.
A saudade como gratidão é um ritual.
A saudade como lamento é desespero.
A saudade como gratidão fez (ou está fazendo) as pazes com o presente.
A saudade como lamento obstaculiza o presente.
A saudade como gratidão abre alas para o futuro, pois o compõe.
A saudade como lamento tem um medo (paralisante) do futuro.
Como eu disse, não acho que consigamos experimentar a saudade como gratidão o tempo todo.
Mas é um exercício possível, assim como o ciúme pode ser a deixa para a compersão.
Quanto mais a gente intenciona, melhor a gente fica.
Da próxima vez que vier a saudade, pergunte a ela: “hoje nós vamos brincar de quê?”