Como resolver o problema da falta de criatividade nas empresas?
A polinização cruzada é a única forma se você quiser realmente inovar. Porque se você pensa que vai inovar lendo a revista do seu segmento, boa sorte com isso. Todos os competidores têm a mesma revista em suas mesas. Isso é bom para se manter atualizado sobre o segmento, mas não para ir além dele. Por isso, você sempre precisa estar olhando para outros lugares.
Ser criativo não é difícil. Mas falta tempo. No trabalho, sempre estamos apressados porque o cliente está cobrando, a meta não foi batida ou precisamos nos sentir “produtivos”. Existe sempre um cronômetro, ainda que dentro de nossas cabeças. Como, nesse cenário de rapidez imposta, olhar para outros lugares? Olhar para o que aparentemente não tem qualquer conexão com o que estamos criando, mas que justamente por isso tem o poder de gerar perspectivas surpreendentes, combinações imprevisíveis e insights realmente profundos?
A citação no início do texto é de Tom Kelley, sócio da IDEO. Ele fala sobre polinização cruzada, um fenômeno que ocorre quando conseguimos superar o vício de abordar os mesmos problemas sempre das mesmas formas. O que uma equipe de executivos têm a aprender vivenciando o pit stop de uma corrida? Como um oftalmologista pode ter novas ideias ao comer em um McDonalds? Quais premissas nós conseguimos questionar simplesmente caminhando pela cidade e contemplando o formato de cada prédio, o semblante de cada pessoa e a estranha combinação dos sons urbanos?
Eu sei, parece que é pedir demais. Na minha terra, falam que é “tilelê”, e nessa categoria também entram coisas como abraçar árvores, dançar em roda e falar com estranhos. O conceito de pensamento lateral de Edward de Bono, ou a capacidade de perceber algo por vários ângulos, está enfraquecido hoje em dia. As pessoas nas empresas — e talvez na vida — não conseguem mais parar e olhar para os lados. É por isso que o mercado de consultorias de inovação permanece vivo mesmo com a economia indo mal.
Em muitas organizações, ouço sempre a mesma conversa. “Estamos sobrecarregados, a pressão é grande, temos reuniões o tempo todo, nosso gestor não nos apoia em ações de aprendizagem”. Simplesmente não há espaço para as pessoas respirarem e pensarem o novo, ou mesmo pensarem o velho de novas formas. É triste e um pouco desesperador, porque bater a meta e fazer muitas reuniões pode até fazer o negócio sobreviver no curto prazo, mas o sufocará no longo prazo — que está cada vez menos longo. Se sua empresa não lançar tendência, outra, menor, mais conectada e provavelmente mais jovem vai lançar.
Todos sabemos que é preciso garantir algum espaço-tempo para ser criativo no trabalho. A criatividade não acontece na correria insana do dia-a-dia. Mas isso não significa que ela ocorre no ócio completo. Ela surge quando você consegue balancear atividade e pausa, aceleração e contemplação, interações com pessoas e tempo sozinho. O insight reside em algum lugar in-between, na dinamicidade que há entre os pólos. Ele se revela quando conseguimos testar em ciclos curtos, mas preservando boas brechas de reflexão e inspiração.
Mesmo sabendo que precisamos criar esse espaço-tempo, não fazemos isso. Sabemos que é importante nos exercitar, mas temos dificuldade em incorporar isso em nossa rotina. Sabemos que é importante separar um momento para ler, mas o Netflix ou o freela sempre entram na frente. Todos temos coisas que sabemos que são importantes, mas ainda assim não priorizamos. Como fazer, então?
Precisamos criar estruturas que garantam que as janelas da criatividade estejam abertas. E se uma empresa instituísse que toda semana durante duas horas as pessoas terão tempo livre para criar e aprender? E se todo mês um grupo de colaboradores se responsabilizasse por criar uma expedição para um local surpreendente fora da empresa? Se a liberdade não é uma condição presente, em alguns momentos é o caso de forçá-la.
Nós não vamos resolver o problema da falta de criatividade nas organizações com mais cursos sobre como ser criativo ou consultorias de Design Thinking.