Compartilhamento semanal #1: O Prazer de Estar Errado [fase de pesquisa]

Alex Bretas
4 min readNov 6, 2020

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Este é o compartilhamento semanal #1 da pesquisa do livro O Prazer de Estar Errado.

A ideia é ir fazendo pequenos sprints semanais de pesquisa e trazer pra cá as principais pérolas e reflexões.

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O que eu pesquisei durante a semana?

Como esta foi a primeira semana, tentei buscar por alguns conceitos e entendimentos básicos como humildade e humildade intelectual, diálogo — e um pouco sobre a epistemologia da discordância, que acabou não rendendo muitos frutos — , não saber, imperfeição, incompletude e impermanência etc.

Alguns artigos acadêmicos sobre humildade intelectual, em especial, foram bem interessantes de ler. A riqueza desse conceito reside em seu caráter multidisciplinar, englobando áreas como a filosofia, teologia e psicologia.

Para que seja possível haver prazer em estar errado, a humildade me parece ser um requisito importante.

As 3 fontes mais interessantes que encontrei

Intellectual Humility: Owning Our Limitations

(Dennis Whitcomb, Heather Battaly, Jason Baehr e Daniel Howard-Snyder)

Esse artigo traz uma definição bastante original de humildade intelectual. Ele diz que ser humilde intelectualmente significa 1) estar consciente de suas limitações de conhecimento; e 2) assumir responsabilidade por essas limitações, agindo de acordo. Na verdade, é um pouco mais complexo que isso, mas a discussão completa do conceito não caberia aqui.

LIV Entrevista Mia Couto: “O medo de errar é talvez o maior dos constrangimentos que nos foram impostos”

(Mia Couto)

Gratidão ao Eduardo Valadares e ao Conrado Schlochauer por compartilharem essa entrevista. O Mia Couto, como biólogo, traz uma perspectiva sobre o erro que até então eu nunca havia pensado: errar é a fonte da vida.

Na maior parte do tempo a evolução biológica foi feita de caos, de tensões e de dramáticos desacertos. A mutação genética é o resultado de um erro na replicação celular. Se não houvesse erro não havia diversidade. Não haveria vida.

12 razões para errar e valorizar os erros que cometemos, todos os dias, em nossas dias

(Alex Bretas)

Pode parecer presunçoso citar um texto de minha autoria, mas o fato é que a releitura dele me trouxe muitas reflexões. Escrevi esse artigo em 2017 e, de certo modo, o livro começou ali. Em especial, me reconectar com a ideia de “beleza na imperfeição” — que, por sua vez, se encaixa com o conceito japonês de “wabi-sabi” — me fez um bem danado. Vejo que essa ideia será importante no decorrer da escrita do livro.

Principais reflexões e insights

  • “Se não houvesse erro não havia diversidade. Não haveria vida” (Mia Couto)
  • A poesia nasce do “errar bonito” (Mia Couto citando Manoel de Barros). O que é errar bonito?
  • Para se beneficiar de fato dos erros, você precisa ter um processo já engatilhado. Me faz pensar em como propor aos leitores do livro a criação de um processo desse tipo — e como ele seria.
  • Wabi-sabi: nada dura, nada é completo, nada é perfeito.
  • Olhe para a foto abaixo:
Créditos: Papo de Homem.

Isso é um erro? Se sim, o erro está na nossa mente — na forma com que olhamos para o sofá — ou no buraco do sofá?

  • O erro como uma categoria linguística mais ampla: a falha, a imperfeição, o feio, o rejeitado, o ferido, o fracassado, o incompleto, o impermanente, o difuso, o incoerente…
  • O erro é sempre errado na perspectiva de alguém. Não há realidade neutra. “Tudo é dito por um observador” (Humberto Maturana)
  • O erro, quando admitido e compartilhado com o outro, gera conexão.
  • O erro como uma possibilidade de recalibrar a percepção sobre o que é “certo” e o que é “errado”.
  • “Erro” e “acerto” são categorias binárias e, por isso, reducionistas. Não são boas para enxergar a complexidade.
  • Existem erros com consequências muito graves — para os quais precisamos nos preparar melhor — e existem erros com consequências pouco ou nada graves. Mas é sempre uma questão de quem está olhando.
  • Como fazer com que as pessoas cultivem humildade e valorização do erro?
  • “A verdadeira humildade não é só reconhecer o outro superior a nós mesmos, é admitir que sozinhos, nunca vamos conseguir ser nós mesmos” (Jorge Oliveira)
  • Em vez de “humildade intelectual”, não seria o caso de falar de “humildade ontológica”? (ontologia: compreensão da realidade)
  • Perfil “controlador” e perfil “aprendiz”. “Os controladores sustentam sua autoestima acreditando que sempre estão certos. Acreditam que as coisas são como eles veem”. “Os aprendizes sustentam sua autoestima no fato de permanecerem abertos. Acreditam que veem as coisas da forma como lhes parece”.
  • A partir da reflexão sobre os dois perfis acima, validei algo que já estava pensando há alguns meses: o trabalho do ego para sair da arrogância e ir para a humildade não o suprime, e sim o redefine.
  • Qual é a estrutura de pensamento e comportamento que sustenta trocas em que há prazer de estar errado?
  • “A verdade de um sistema errado é o erro” (Boaventura de Souza Santos)

Semana que vem tem mais.

O livro O Prazer de Estar Errado está sendo escrito “em voz alta”. Isso significa que eu quero muito ouvir o que você pensa sobre tudo isso.

O que te toca nessas reflexões? O que você pensa ou sente sobre elas?

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Alex Bretas

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.