Escritos Poéticos Que Nunca Compartilhei Publicamente Antes
Ver já é chegar?
Bom, eu já disse aqui que em algum momento iria começar a compartilhar alguns textos mais poéticos.
Esses escritos — que eu até já mostrei a algumas pessoas próximas, mas que só agora estou deixando secar ao sol — me preenchem pela sua capacidade de abraçar complexidades.
Gosto de pensar neles como colagens. Muitos universos estão presentes em cada um: alguns desses mundos são meus, mas nunca só meus.
Separei três. Lê em voz alta?
🌋 perto demais do fim
a página do jornal estampa a manchete: estamos perto demais do fim. tão perto que os sotaques se entrelaçam, a música se dissolve no vazio, as bermudas perdem seus bolsos e os espelhos deixam de ecoar nossos silêncios mais profundos. sim, diz o profeta, estamos perto demais do abismo. tão perto que os corações azuis ficam vermelhos e os vermelhos ficam azuis, quem torce pro palmeiras vira são paulino, o lé deixa de ter qualquer coisa a ver com o cré, a poesia escorre das mãos do poeta. esse foi nosso erro, nós caminhamos demais. chegamos tão perto que os pelos dos nossos corpos ficaram tão afiados quanto a navalha do barbeiro português. o fim, porém, não parece tão feio assim. tem cheiro de mel e se permite ser degustado. perto demais do fim talvez não seja um erro, ou, se for, é um erro deliberado. ele, o fim, sempre anuncia uma cena pós créditos. afinal, eu não sei como te dizer isso, mas toda reta, até a mais teimosa, é, na verdade, uma curva. e o risco de se caminhar demais numa curva é voltar, voltar ao útero. voltemos.
Obs.: obrigado, MT, por me ensinar que até as retas mais teimosas são curvas!
☀️ little shrines
krishnamurti dissolveu toda uma ordem religiosa dizendo: “quem quer adorar sob a luz de uma vela quando você pode ter o sol?” a verdade não é destino, é caminho, nisso o craig foster também acredita. ele me ensinou a adorar polvos, e aí você entende que há o divino em tudo. pergunte ao seu coração: o que muda quando você passa a ver o divino em tudo? minhas amigas tatuaram um coração cheio de mãos que se abraçam, e elas fizeram isso depois que seus corações se abraçaram e muito. o rio precisa do leito pra se deitar, e na verdade isso também é um abraço. se você prescindir dos abraços que te ligam todos os dias com o fio da existência, vai acabar adorando velas. meu amor, colecione tantas pequenas chamas quanto quiser, mas não se esqueça do sol… ele é tudo que há.
Obs. 1: Jiddu Krishnamurti foi um dos filósofos que mais me influenciou na vida. Assista a um documentário sobre ele aqui.
Obs. 2: quer saber quem é Craig Foster? Assista Professor Polvo (mesmo se você não quiser saber quem é ele, assista. Você não vai se arrepender — é uma aula de aprendizagem autodirigida do início ao fim)
🌛 fresta lunar
gosto dos meus pés um pouco sujos de terra vermelha, na medida do impossível. eu, que sempre me avermelhei de outros modos, agora desejo o chão, mesmo. também tenho vontade de céu, e isso é culpa sua. uma vontade edgar mitchelliana, tipo a epifania de se ver o planeta azul de longe e nunca tê-lo sentido tão perto. há quem acredite que não, mas basta empilhar as coca-colas durante 1 ano para chegar à lua. me diz você: ver já é chegar?
Obs.: Edgar Mitchell já pisou na Lua, e isso não é a coisa mais interessante sobre ele.
E aí, como essas palavras chegam pra você? Como essas costuras te movimentam?
Topa me contar nos comentários? ✨
E me diga também se esse formato de texto é algo que você gostaria de ver mais por aqui.