mudei de ideia 🐦‍🔥 2024

o meu famigerado discurso anual

Alex Bretas
10 min readMar 13, 2024

ok, este é o meu texto mais importante do ano 📢

ano passado, enviei um e-mail com o título “mudei de ideia” (talvez você se lembre dele) e, agora, decidi torná-lo um ritual anual.

afinal, nada mais coerente com a identidade de um aprendiz autodirigido e ao longo da vida do que mudar de ideia com frequência.

se você acompanha meu trabalho, eu te peço:

📖 leia este e-mail até o final (tem um anúncio que eu realmente achei que não ia fazer lá na última parte)

separe um tempinho gostoso com você mesmo, pegue uma 🪑 cadeira e se achegue.

15 minutos é tudo que é necessário

preparado para zarpar? 🚢

a primeira coisa que tenho pra te contar parte de uma pergunta (retórica):

como não mudar de ideia depois de tantas coisas incríveis E desafiadoras E acachapantes que vivi no último ano? 🤯

simplesmente não tem como.

mais uma turma do Mol³ (a quarta), um diagnóstico de demência do meu pai, um término de uma relação de 5 anos, 4 residências de aprendizagem (Araçoiaba/SP, Floripa/SC, Alter do Chão e Belém/PA e Olinda e Recife/PE), muitas relações novas e uma brusca mudança de planos e de cidade depois, cá estou eu, sentadin no meu novo lugar tirando as certezas de lugar.

mas como é que a gente conta (sobre) o tempo que vivemos?

o parágrafo acima traz alguns números e alguma vulnerabilidade, mas não conta sobre a balada proibida que eu, Amanda e Luis criamos numa ruína, somente para depois ficarmos chapados de endorfina olhando as estrelas no céu — e SIM, nós vimos uma estrela cadente GIGANTE juntos! (episódio conhecido entre nós como “Star Techno”) ✨

não conta do convite para um café virtual que fiz para a Iza, que nunca aconteceu, mas que foi substituído por um “topa morar junto por 1 mês no Pará?” que, veja só, rolou mais fácil do que a chamada de Zoom.

não conta do xixi que alagou todo o banheiro do aeroporto que meu pai fez por não conseguir mais controlar sua bexiga, nem do fato de agora ele chorar quando se despede de mim.

enfim, só aquele parágrafo não conta muitas coisas. a experiência da descoberta é mesmo algo pessoal e intransferível 🧑🏾

sério: EU NÃO TINHA IDEIA de que viveria metade disso nos últimos 365 (366?) dias.

a sensação é de que minha vida se tornou um verdadeiro laboratório de aprendizagem autodirigida em comunidade 🧫

de certo modo, é algo que já estava acontecendo.

só que agora esse laboratório cresceu, agora ele ocupa muitas avenidas da minha existência — e na de outras pessoas também.

minha vida é um experimento — e não é que eu seja nem um pouco especial por isso, e sim porque aprendizes autodirigidos fazem exatamente isso de suas vidas.

como seria radicalizar a chama da descoberta na sua vida? como seria abrir tempo pra isso?

tempo, aliás, é um tema sobre o qual PRECISAMOS falar 🕰️

💥 eu tive uma epifania (uma boa palavra!) esses dias que quero dividir com você.

muitos fatores na nossa sociedade hoje nos fazem viver num estado que batizei de PCC — Prisão da Correria Contínua ⛓️

PCC é a falta crônica de tempo.

é a situação brutal de ansiedade cronológica que nos acostumamos a habitar.

mas não é só isso — vem comigo (respira fundo!) que eu te explico.

para compor essa reflexão, vale resgatar aqui a minha frase preferida do Antoine de Saint-Exupéry:

“o futuro não é um lugar para onde estamos indo, e sim um lugar que estamos criando”.

💛 fica melhor, pois ele ainda diz que:

“o caminho para o futuro não é encontrado, e sim construído, e esse ato muda tanto o destino quanto o realizador”.

viver na ⛓️ Prisão da Correria Contínua significa, trazendo o autor de O Pequeno Príncipe para a conversa, não conseguir construir futuros, apenas encontrá-los.

também significa não contemplar nem compreender o passado, quiçá o presente.

(lembra dos 3 Cs — Contemplar, Compreender e Criar?)

em outras palavras, na PCC você se vê acorrentado ao que já tem, ao que já vive, o futuro nada mais é que uma cópia mal-acabada do passado, a roda continua girando sem você botar reparo nem na roda, nem em você, nem em nada ao redor 👀

essa prisão é uma prisão alienante e, em alguma medida, estamos todos nela.

📱 as mídias sociais produzem deliberadamente PCC — afinal, quanto mais tempo dispendemos nas rolagens infinitas, mais o Zuck lucra.

mas não são só elas.

a tirania do sistema econômico (da qual as mídias sociais são somente uma consequência) também nos amarra dolorosamente ao instantaneísmo eterno, e isso já vem ocorrendo há séculos, não é de agora.

ao longo da História, as escolhas sobre o que fazer com o nosso tempo foram sendo retiradas de nós.

viver a Prisão da Correria Contínua significa, portanto, viver sem poder decidir de maneira livre e consciente sobre o próprio tempo 😟

🚸 isso começa na infância, com as crianças vivenciando um tempo cada vez mais ocupado — seja pelos afazeres impostos pelos pais que precisam trabalhar, seja pelo trabalho infantil para ajudar em casa, a depender da classe.

o dever de casa começa cada vez mais cedo e as atividades “úteis para o desenvolvimento” também.

🏃🏽 mas é na fase adulta que a prisão da correria realmente se consolida, e eu tenho certeza que você sabe do que estou falando.

(uma definição boa para “adulto” hoje em dia é “pessoa sem tempo”. adultos com tempo disponível, além de raros, tendem a ser vistos em alguma medida como “menos adultos”)

quando crianças, o tempo que geralmente associamos ao futuro é o tempo da escola.

o tempo da escola, porém, é um tempo instrutivista, preto e branco, imposto.

seu objetivo não é criar condições para a descoberta, e sim para o ensino. dessa forma, lá só é possível encontrar o futuro em vez de construí-lo.

crescemos nossos corpos, assumimos responsabilidades e funções, mas nossas noções de educação permanecem instrutivistasreprodutoras e não criadoras –, e por isso mesmo inadequadas para lidar com um mundo em mutação 🍃

talvez você conheça o Mito da Caverna, do Platão 👤

aquela história em que um grupo vive aprisionado em uma caverna, acreditando que as sombras projetadas no interior correspondem à realidade.

quando um dos prisioneiros consegue finalmente escapar da caverna e acessar o mundo externo, ele primeiro fica com vontade de voltar para a sua “merda quentinha”, mas depois se encanta com as inúmeras descobertas daquele novo universo.

quando o fugitivo retorna à caverna para contar o que viu, os demais prisioneiros o veem como louco e o matam 🗡️

esse mito permanece muito atual e possibilita múltiplas interpretações. (tio Platão sabia o que estava fazendo…)

uma perspectiva que quero propor é a seguinte:

aprender pela via da descoberta é o mesmo que se arriscar a sair da caverna.

e ainda me arrisco a dizer que a principal coisa que prende quem permanece lá é a falta de tempo, ou melhor, o sequestro desse tempo em prol da:

  • produção que não pode parar
  • das “responsabilidades” do mundo adulto
  • dos treinamentos e cursos convencionais — reflexos de um futuro muito encontrado e pouco construído

ou seja: a PCC nos impede de (realmente) ver 🙈

estamos num 🚀 foguete na velocidade da luz, e sabe o que acontece lá dentro?

o tempo passa mais devagar, a gente envelhece muito menos (foi Albert Einstein quem provou isso).

que ótimo, não?

só que o problema é quando você sai do foguete.

ao retornar a uma velocidade normal, todo o envelhecimento bate na porta — e talvez você até morra instantaneamente.

(ninguém sabe o que acontece, na verdade, pois ninguém nunca tentou).

muitas pessoas adultas hoje — talvez você se identifique — vivem na velocidade da luz 🫧

e com isso têm a ilusão de que conseguem dar conta de tudo, de que o tempo é esticável.

equilibram vários pratinhos simultaneamente e ficam orgulhosas disso.

e aí vem o burnout, a depressão, a falta de sentido — a saída do foguete é traumática.

e sim, meus amigos, em algum momento precisaremos sair do foguete.

(talvez seja melhor nunca entrar — mas as pressões da sociedade nos empurram para ele o tempo todo)

“Nós somos muito bons em fazer coisas velhas e familiares mais rápido ou em fazer as coisas erradas melhor”. (Olli-Pekka Heinonen e Hermanni Hyytiälä)

até aqui acho que já deu pra entender que a ⛓️ Prisão da Correria Contínua tem implicações terríveis, e todos nós a vivenciamos em alguma medida.

é algo estrutural, não individual.

ou seja — para não fazer como dizem os autores de sobrenomes impronunciáveis (finlandeses!) acima, precisamos de estratégias para além do indivíduo.

veja bem: pedaços de tempo blindados para a instrução nós até já temos 🧱

as crianças ficam neles boa parte do seu dia e os adultos menos (a essa altura muitos não aguentam mais, pois já associaram educação a algo chato, e com razão).

🪄 mas e as porções de tempo blindadas para o aprendizado pela descoberta? onde estão?

quem só aprende sendo instruído pode até ter quebrado as correntes que o imobilizavam, mas ainda não saiu da caverna 🪨

minha epifania, meu “mudei de ideia” mais forte nesse último ano — sustentado pelos abundantes momentos de Contemplação, Compreensão e Criação que vivi –, é a necessidade imperiosa de se ABRIR TEMPO PARA VIVENCIAR A APRENDIZAGEM PELA DESCOBERTA

afinal, é essa aprendizagem que conseguirá fazer as pessoas CONSTRUÍREM FUTUROS em vez de somente encontrá-los.

🌬️ é essa aprendizagem que fará todas as empresas e organizações, universidades e escolas avançarem sem precedentes, não fazendo as coisas velhas e erradas melhor, mas de fato pensando de um jeito novo.

➡️➡️➡️ existe um jeito de blindar o tempo para a descoberta, e ele é composto de uma combinação de novas Arquiteturas de Aprendizagem Autodirigida (A³) + insights preciosos de economia comportamental (em especial, nudges).

as , como já explorei aqui, são estratégias concretas para habilitar o aprendizado pela descoberta em indivíduos, grupos e organizações.

mas, como qualquer atividade humana, elas se dão no tempo, e se tá todo mundo “sem tempo, irmão”, elas simplesmente não acontecem.

(na verdade, o estado de PCC não apenas oblitera o tempo, como também gera uma certa indisposição nas pessoas. elas passam a não quererem ativamente descobrir, só passivamente serem ensinadas — e isso se soma às mentalidades já escolarizadas)

venho trabalhando nesse novo enquadramento das A³ há vários meses, e isso tem tudo a ver com uma ⚠️ outra coisa importante que quero te contar.

inicialmente eu não iria abrir uma nova turma do Mol³ este ano, mas, como você sabe, mudar de ideia está longe de ser um problema pra mim.

repensei isso quando entendi que o Mol³ 2024 poderia ser um programa especial, diferente de tudo que já fiz 😯

⌛ o TEMPO surgiu como uma variável essencial.

minhas investigações mostraram estratégias comprovadamente efetivas para implementar as A³ mesmo dentro de um cenário de PCC, mesmo diante da falta de tempo mais tenebrosa.

quero criar uma comunidade para que Arquitetos de Aprendizagem Autodirigida se formem nesse novo campo de conhecimento.

💘 por isso, o Mol³ 2024 terá um tema central: o tempo.

vamos descobrir juntos como vencer a correria contínua para fazer o que todo mundo já sabe que é importante: aprender por toda a vida.

lifelong learning não ocorre no vácuo, ele se dá no tempo.

e o tempo do aprendizado, no nosso tempo histórico, foi sequestrado.

precisamos fazer o resgate. 🥷

➡️➡️➡️ tem coragi de comentar neste post? (e tornar a internet um lugar menos inóspito para se viver?)

eu realmente gostaria de ouvir como essas ideias chegam por aí.

minha taxa de resposta aos comentários até hoje: 100%.

⚠️ obs. 1: sobre datas…

🟡 de 22 a 26 de abril vai rolar a segunda edição do Mapa A³ (a primeira teve +2.400 inscritos), um minifestival gratuito onde você vai entender como funcionam as novas Arquiteturas de Aprendizagem Autodirigida na prática

(vou abrir inscrições para o Mapa A³ semana que vem)

🟢 no dia 29 de abril as inscrições para o Mol³ 2024 Edição Especial: Tempo estarão abertas — 📆 adicione no Google Agenda para não esquecer

obs. 2: o clarão sobre as escolhas relativas ao tempo que foram retiradas de nós eu tive com o Luis, que aprendeu com o Ciano. obrigado aos dois!

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Alex Bretas
Alex Bretas

Written by Alex Bretas

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.

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