“O cérebro vazio” — Robert Epstein: síntese e reflexões sobre o artigo
3 min readNov 30, 2016
O link do texto traduzido segue abaixo:
- Rejeição à comparação do cérebro a um computador. Metáforas para explicar o intelecto humano referem-se sempre às descobertas consideradas mais avançadas em cada período (hidráulica, mecânica e, agora, computação).
- Essa ideia, por ser muito difundida, gera problemas e promessas que não podem ser cumpridas. O problema da memória vale ser ressaltado. Como Sugata Mitra diz, não existe memória. “A ideia, defendida por vários cientistas, de que memórias específicas estão, de alguma maneira, armazenadas em neurônios individuais é ridícula”.
- Experimento da nota de um dólar: a diferença brutal entre lembrar e reconhecer. Somos muito melhores em reconhecer do que lembrar.
Lembrando “de memória”:
Reconhecendo (vendo a nota):
- Várias áreas do cérebro (e não “slots” específicos) são ativadas em tarefas relacionadas à memória. Quando emoções fortes estão envolvidas, a atividade cerebral é ainda mais intensa e distribuída.
- Isso posto, como explicar, então, o fenômeno da aprendizagem? Por exemplo, um pianista que toca “de cabeça” uma sinfonia perfeitamente (ou que sabe improvisar de forma certeira em um concerto de jazz)? O que ocorre, segundo Epstein, é uma série de mudanças neuronais ordenadas — dependentes não só da genética do indivíduo, como do conjunto das experiências únicas de vida que ele teve — que tornam todo o sistema mais adaptado para performar de determinada maneira face a uma circunstância específica. Essas mudanças (aprendizagens) acontecem porque, como seres sociais, estamos sujeitos a certas recompensas caso consigamos desenvolver certos comportamentos, assim como somos punidos se desenvolvemos (ou deixamos de desenvolver) outros. Entendendo isso, o pianista que deseja aprimorar sua habilidade treina incessantemente para fazer com que seu sistema nervoso se modifique, a fim de que consiga tocar o que quer tocar e seja recompensado por isso (extrinsecamente — isto é, socialmente — e, por que não, intrinsecamente, dado o provável prazer — o flow — que ele sente ao tocar).
- Exemplo do jogador de baseball pegando uma bola no ar: pela metáfora do processamento de informação (cérebro como computador), o cérebro do jogador precisaria calcular uma série de coisas — ângulos, velocidades, trajetórias — para então ordenar ao restante do corpo que agisse de determinada forma. Ao enquadrar a questão sob uma perspectiva anti representacional, o jogador simplesmente se põe a correr e, no caminho, vai interagindo com a bola e se adaptando dinamicamente ao que sua percepção lhe diz (de modo a configurar uma certa “trajetória linear óptica”).
- “[…] tudo o que é necessário para nós funcionarmos no mundo é que o cérebro mude em uma forma ordenada como resultado de nossas experiências”.
- Assim, aprender é “mudar com o mundo” (Humberto Maturana).
- Pelo fato de cada pessoa contar com um sistema neuronal não apenas geneticamente singular, como também diferente do ponto de vista de seu histórico de infinitas interações com o mundo externo, a neurociência torna-se uma tarefa muito mais complexa. É impossível compreender como o cérebro humano funciona sem entender o sistema em que ele se insere: a pessoa, seu contexto social e cultural, as circunstâncias que compreendem a situação específica que se deseja entender etc etc etc.
- Por fim: “Nós somos organismos, não computadores. Supere. Vamos começar com o negócio de tentar entender a nós mesmos, mas sem sermos sobrecarregados com bagagem intelectual desnecessária. A metáfora do processamento de informações já teve seu meio século, produzindo poucos insights pelo caminho, se é que os produziu. Chegou a hora de apertar DELETE”.