🔍 O Paradoxo de Abilene

Alex Bretas
3 min readJan 30, 2024

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Esses dias, viajando por Floripa, um amigo e uma amiga compartilharam comigo uma sabedoria preciosa.

Eu já sabia intuitivamente sobre ela, mas ter entendido o conceito de onde ela parte fez toda a diferença.

Sabe quando as pessoas não se checam nas suas vontades e disposições?

Por exemplo: você acha que seu marido deseja viajar contigo para a praia e, por isso, propõe essa ideia.

Algo para reanimar a relação, você pensa (embora sua vontade genuína fosse fazer uma viagem só com suas amigas, ou até mesmo ficar relaxando em casa).

Ele, supondo a mesma coisa sobre você — e também não muito afim de ir à praia –, topa o rolê essencialmente para te agradar.

A viagem acontece e é um azedume só.

Ninguém está realmente desejante de estar ali, mas, como a honestidade não encontrou espaço para desabrochar, você e seu marido acabam vivenciando mais uma experiência medíocre/desastrosa.

Isso é o 🔍 Paradoxo de Abilene, proposto inicialmente pelo professor de gestão Jerry B. Harvey.

Infelizmente muito comum em interações sociais, esse paradoxo se baseia na suposição dos quereres e necessidades de outres.

E aí, para conseguir pertencer à relação (ou ao grupo) e ser amada, a pessoa sugere ou aceita coisas escondendo suas objeções a respeito.

O Paradoxo de Abilene tem a ver com o conceito de duplo vínculo proposto na década de 50 pelo psicólogo e pensador Gregory Bateson.

🔁 O duplo vínculo, na raiz, é uma mensagem dúbia: ela contém ao mesmo tempo um “sim” e um “não”.

Às vezes a palavra comunica uma coisa e o corpo outra. Ou a própria comunicação verbal deixa pistas ambíguas, evasivas — seja conscientemente ou não.

No fundo, é uma tentativa de estabelecer uma relação de poder. E uma inabilidade em tolerar uma eventual retirada do afeto da outra pessoa.

Já viveu algo assim? Eu já.

O duplo vínculo é algo bem complexo e que não cabe por inteiro nos contornos deste texto. Voltemos ao Paradoxo de Abilene.

🧰 Como evitá-lo?

  • Tente perceber quando você está propondo ou aceitando algo somente para agradar. Pode parecer inofensivo na hora, mas essa estratégia cobra um preço depois, inclusive na relação.
  • Treine a sua percepção do que a outra pessoa diz e do que ela não diz. E, a partir disso, faça checagens constantes: “estou entendendo X, é isso mesmo?”, “você realmente deseja isso?”, “como é isso pra você?”
  • Na dúvida, aposte em uma comunicação explícita e com honestidade radical. Não é fácil no início, mas as relações se aprofundam muito quando começamos a interagir mais frequentemente dessa forma.

Por menos Abilenes no mundo, por favor.

Obs 1.: Abilene na verdade é uma cidade no Texas, e o nome deriva de um exemplo que Jerry Harvey utilizou no artigo que escreveu sobre o tema.

Obs. 2: aprendi sobre o Paradoxo de Abilene com o Cali e a Laís e sobre duplo vínculo com o João da Mata. Obrigado! 😍

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Alex Bretas

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.