O perigo de não reconhecer o que você realmente quer
Dev Carey é diretor do High Desert Center, uma organização norte-americana que oferece programas de Gap Year (ano sabático) para jovens.
Durante um ano inteiro, ele facilitou um processo para um grupo de adolescentes que, a cada semana, se comprometiam a fazer as 3 coisas mais importantes para si mesmos na semana seguinte.
7 dias depois, eles voltavam a se reunir e compartilhavam se tinham atingido seus objetivos ou não, além de refletirem sobre a experiência.
No primeiro mês, as respostas dos membros do grupo a respeito do alcance das metas seguiam um padrão: “ah, eu fiz algumas coisas, mas outras não”, “fiz mais ou menos” etc. E essas respostas frequentemente eram acompanhadas por sentimentos de medo e vergonha.
Demorou um tempo para eles se sentirem seguros e serem realmente honestos, especialmente sobre seus fracassos. Esse foi o primeiro grande aprendizado.
Ao longo das semanas e por meio da reflexão conjunta, os jovens começaram a perceber os casos em que os objetivos não eram atingidos como oportunidades de descoberta.
“Eu disse que aquilo era muito importante pra mim, mas na verdade eu descobri que não era tão legal assim, então eu fiz outra coisa”.
“Minha avó ficou doente e eu fiquei cuidando dela, e isso me fez perceber que a minha vó é muito importante pra mim”.
Muitos desses aprendizados eram impulsionados pela pergunta: “tudo bem você não ter alcançado seus objetivos, mas o que você fez em vez disso?”
Em alguns casos, os adolescentes até esqueciam quais objetivos tinham fixado para si mesmos na semana anterior.
Isso fez Carey perceber que a maioria de nós não é muito boa em reconhecer o que realmente valoriza — e, por consequência, em se comprometer com isso.
“A maioria de nós não sabe o que realmente quer ou não está disposta a admitir para si mesmo e para os outros. E, quando somos questionados sobre nossos objetivos, muitas vezes dizemos coisas que parecem boas, mas que podem nos prender a um sentimento de que precisamos cumpri-las para sermos valorizados, dignos e amados perante os nossos próprios olhos e dos outros”. (Dev Carey)
Mesmo em um ambiente de liberdade, podemos nos tornar tiranos de nós mesmos.
Essa experiência, contada pelo próprio Dev Carey em um podcast do Blake Boles, me afeta em um nível profundo. Quantas vezes nós achamos que queremos algo — talvez até tentando se comprometer com isso em resoluções de ano novo, por exemplo –, mas na verdade temos medo de admitir o que realmente queremos?
Ao longo da vida, nós somos constantemente influenciados por ideais alheios. Será que eu realmente quero ter um corpo definido? Será que eu realmente quero ser promovido? Será que eu realmente quero escrever todos os dias?
Todas essas coisas podem ser boas, mas talvez não pra você, ou não neste momento da sua vida. E tudo bem.
Pode até ser que você valorize tudo isso, mas outras coisas são mais prioritárias, têm mais a ver com você e/ou te dão mais prazer.
Descobrir o que realmente valorizamos — e não o que os outros ou até nós mesmos achamos que é importante — é uma das habilidades cruciais da autodireção.
E, às vezes, ser autodirigido significa aceitar algo sobre si em vez de tentar desesperadamente mudar.