Olavo de Carvalho: um aprendiz autodirigido?
Morreu Olavo de Carvalho, principal ideólogo do bolsonarismo e da extrema-direita brasileira.
Olavo escrevia muito bem e se dedicava a estudar temas que o interessavam. Era um crítico do meio acadêmico, em especial o brasileiro, e propunha, desde 2006, a criação de grupos independentes de estudo para quem desejasse “obter uma formação intelectual sólida” — de acordo com as visões dele, é claro.
Além disso, cultuava a inteligência erudita (notoriamente branca e de base greco-romana) e denunciava os horrores da intelectualidade “comunista”, com quem seria até covardia debater.
Dada a sua propensão aos ideais de “liberdade” e de autoeducação, seria o guru do conservadorismo também um aprendiz autodirigido?
Ao meu ver, definitivamente não. E a melhor justificativa para isso pode ser encontrada na citação abaixo, de Tara Westover:
“A educação deve significar sempre uma expansão da sua mente, um aprofundamento da sua empatia, um alargamento da sua perspectiva. Nunca deve endurecer seus preconceitos. Se as pessoas se tornarem educadas, elas devem se tornar menos certas, não mais”.
Olavo de Carvalho semeava ódio como estratégia de autovalidação. Como escreveu Horacio Neiva no Intercept, sua filosofia “dava ferramentas para ignorantes se acharem inteligentes e julgarem os demais burros e estúpidos”.
Ninguém pode se tornar um verdadeiro aprendiz autodirigido sendo portador de uma mente viciada, uma empatia rasa e uma perspectiva estreita.
Gurus, menos ainda, pois se tornam presas fáceis de seu próprio circo ideológico. Olavo levou isso às últimas consequências ao morrer de uma doença cuja vacina ele poderia ter tomado — se antes tivesse se curado de sua cegueira intelectual.
Que a sua irônica morte nos sirva de lembrete: aprender de maneira autodirigida requer muita humildade e abertura, mas também pensamento crítico.
