Porque e como apreciar

Reflexões a partir da experiência do Mol

Alex Bretas
4 min readNov 11, 2020

“A coisa mais importante sobre a apreciação é expressá-la” (Liv Larsson)

A experiência de apreciar e ser apreciado nos atravessou no MoL de maneira muito intensa. E não é a primeira vez que percebo como a apreciação pode ser fundamental para sustentar a energia de comunidades de aprendizagem autodirigida.

Na verdade, de acordo com a mediadora e autora Liv Larsson, a apreciação é essencial para sustentar a energia de qualquer relacionamento.

Outra pesquisadora do assunto, Nancy Kline, aponta que as pessoas pensam melhor na presença da apreciação. E param de pensar na presença de críticas. É uma coisa biológica, mesmo. As batidas do coração sincronizam e o fluxo de sangue no cérebro aumenta.

Nos sentimos mais confiantes e conectados em um ambiente altamente apreciativo. E confiança e conexão — junto com um ótimo fluxo sanguíneo cerebral — são ingredientes básicos da aprendizagem.

Como?

Durante o MoL, toda semana os participantes eram convidados a compartilhar suas descobertas no portfólio da comunidade. Nem todos faziam isso, mas quem se arriscava ganhava uma pequena “chuva” de apreciações.

Eu comecei com o hábito de apreciar e, pouco tempo depois, várias pessoas entraram na onda.

Quero te contar o que é importante pra mim na hora de apreciar alguém.

Apreciação: “oferecer um genuíno reconhecimento das qualidades da outra pessoa e do que está funcionando bem” (Nancy Kline)

  • Quando vou apreciar, eu tento me conectar com o que quer que seja no outro ou no que ele faz que me desperta um sentimento de admiração ou gratidão. Não é necessário que eu aprecie tudo, até porque apreciações genéricas costumam ser recebidas com desconfiança.
  • É SEMPRE possível apreciar alguma coisa no outro, mas você precisa treinar seus olhos para enxergar.
  • Mesmo sendo um defensor do poder de apreciar, é comum eu pensar que minha crítica “construtiva” vai ser mais útil que a minha apreciação. Em quase 100% das vezes, a realidade me prova o contrário.
  • Eu posso optar por apreciar o resultado (o quê), o processo (como) e/ou a intenção (porquê) do outro. Desde que a apreciação seja genuína, tudo vale.
  • Eu nunca penso que o outro precisa da minha validação: minha vontade de apreciar não parte daí. Mas todos nós apreciamos ser apreciados.
  • Primeiro passo: o que eu observo concretamente no outro ou no que ele faz e que me faz sentir admiração ou gratidão?
  • Segundo passo: como isso que eu observo me faz sentir? Alegre? Esperançoso? Radiante? Amoroso?
  • Terceiro passo: por que a ação do outro é nutritiva para mim? De quais importâncias ela cuida aqui dentro?
  • Quarto passo: expressar tudo isso para a pessoa, seja escrevendo uma mensagem, gravando um áudio, ligando ou durante uma conversa.
  • No MoL, criei o hábito de apreciar os compartilhamentos dos participantes publicamente no nosso grupo de Whatsapp. Apreciações públicas, se usadas de maneira adequada, trazem um duplo benefício: geram muita nutrição para quem as recebe e inspiram outras pessoas a fazer o mesmo.
  • Autoras como Nancy Kline sugerem que nossas apreciações devem ser sucintas. Por um lado, faz sentido, dado que apreciações muito longas podem ser confundidas com bajulação. Por outro, tento cuidar para que isso não faça com que minha apreciação fique “seca”. Apreciar requer cor, calor, emocionalidade, entusiasmo.
  • Ao apreciar, meu desejo é que o outro se sinta especial, mas sem que isso implique em comparações com outras pessoas ou ações — ou até mesmo com a própria pessoa em um momento anterior. Apreciar é a arte de se comover com a singularidade.
  • Para fazer uma boa apreciação, eu preciso estar atento ao outro. Estar atento ao outro já é, por si só, uma espécie de apreciação. (Nancy Kline concordaria)
  • Durante o MoL, eu separava de uma a duas horas por semana para apreciar as produções dos participantes. E era impressionante como eu me sentia mais energizado e exuberante a cada novo ato de apreciação. Apreciar não faz bem somente para quem recebe, mas para quem oferece também — e, ainda, para quem presencia. É a ocitocina em ação.
  • Quando criamos contextos em que a apreciação — em vez da crítica — se torna a regra, as pessoas se tornam mais corajosas e abertas. E é surpreendente como isso pode ser rápido.
  • Aprender a expressar apreciação constantemente faz parte de um outro treino ainda mais importante: aprender a perceber as belezas do outro com cada vez mais nitidez. Assim, nos tornamos capazes de enxergá-las também em nós mesmos.

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Alex Bretas

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.