Quando o talento vira uma prisão

Alex Bretas
2 min readJan 24, 2022

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“Ele gosta de mim antes de eu ser inteligente”

Emocionada, Mary diz isso sobre o seu tio-pai, Frank, que a criou longe do fantasma da superdotação. Sua mãe, prodígio em matemática, havia tirado a própria vida por não suportar a pressão da sociedade sobre seu dom.

Mary também é superdotada. Ao mesmo tempo que problemas matemáticos hipercomplexos a interessam, ela é uma criança que só quer ter uma vida boa perto dos amigos.

No entanto, uma vez que se detecta um talento no sistema capitalista, ele se torna um ativo, um produto, um recurso passível de ser explorado.

É muito triste quando o talento vira uma prisão.

Andre Agassi, vencedor de oito Grand Slams, odiava tênis. Desde que se aposentou, nunca mais jogou tênis na vida. Seu pai, fanático pelo esporte, o forçava a treinar exaustivamente desde pequeno.

Simone Biles, ginasta norte-americana, desistiu de disputar algumas finais olímpicas não por uma lesão física, mas mental. Ao escolher cuidar de si em vez de seguir na competição mais importante do mundo, foi duramente criticada.

Não pense que o talento se torna uma prisão só no esporte de alto rendimento ou com pessoas superdotadas. Acontece no dia-a-dia, com nós mesmos.

Não deveríamos nos sentir obrigados a fazer nada só porque somos bons naquilo. Ou só porque fizemos aquilo por muito tempo. Ou para agradar os outros. Ou para vencer a qualquer custo.

O talento deve estar sob o controle de quem o manifesta, e ninguém mais — inclusive de crianças, que também sabem se autodirigir.

Para tanto, precisamos gostar das pessoas antes delas serem inteligentes.

Obs.: a citação inicial e os primeiros parágrafos são baseados no filme Gifted (Um Laço de Amor).

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Alex Bretas

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.