Uma Estranha Tradição De Aprendizagem Autodirigida Da Idade Média Que Segue Viva Até Hoje
O que podemos aprender com os journeymen
Bem no início do meu doutorado informal, eu descobri a tradição dos journeymen (homens de jornada, em tradução livre, ou, no original, wandergesellen), e cheguei a mencioná-la em um dos textos que escrevi antes de produzir material para o livro.
Recentemente, encontrei uma ótima matéria no New York Times que me reacendeu o desejo de compartilhar sobre essa pérola cultural germânica.
De quantas maneiras diferentes você pode acumular “horas de voo” em um ofício/profissão que acabou de aprender?
Certamente há muitas formas — mas talvez nenhuma seja tão radical e inusitada quanto a tradição dos journeymen.
Imagine homens e mulheres vestidos como cowboys viajando com pouquíssimos pertences pelo mundo, oferecendo seu trabalho apenas em troca de comida, hospedagem e caronas para outros destinos (nunca dinheiro).
Por alguns anos — usualmente dois ou três, mais um dia –, essa é a escolha de jovens que acabaram de aprender ofícios manuais como carpintaria, jardinagem, construção, panificação etc.
Na Idade Média, esse costume era ligado às corporações de ofício. Você aprendia o básico e, logo depois, saía para viajar — e é aí que você realmente aprendia.
Hoje em dia ainda existe muita gente, especialmente em países germânicos, que mantém vivo o costume dos journeymen.
Entre rituais um pouco malucos — como pular da placa de entrada de sua cidade natal para cair nos braços de outros journeymen ao iniciarem suas jornadas — e regras bastante rígidas — por exemplo, não usar um celular durante toda a viagem –, o que eu acredito ser a essência dos journeymen é a sensação de liberdade inscrita nesse processo e o senso de comunidade ao aprender (muites viajam em pequenos grupos e, mesmo quando esse não é o caso, é comum se encontrarem e se apoiarem em diferentes pontos da jornada).
Esses elementos fazem com que essa tradição respire Aprendizagem Autodirigida em Comunidade.
Viajar/se deslocar para aprender e se transformar — e ter boas companhias durante o percurso — é um padrão de muitas outras iniciativas inspiradoras de aprendizado: Classroom Alive, Caminho do Sertão, o famoso Caminho de Santiago, residências etc.
Não é à toa que esse costume de características medievais sobrevive até hoje.
Obs.: a primeira vez que aprendi sobre os journeymen foi com os amigos Danilo España e Luah Galvão. Muito obrigado!
Talvez você não faça uma longa jornada como os journeymen, mas o que é possível extrair dessa tradição e que pode potencializar seus caminhos de aprendizado e de quem te acompanha?
Me conta nos comentários! 🤠