Problema, Aprimoramento, Interesse: 3 gatilhos da aprendizado
Existem muitos gatilhos possíveis que nos fazem embarcar em uma ação de aprendizado. Se seu filho está com uma doença rara, por exemplo, você provavelmente vai separar um bom tempo para se aprofundar nessa doença.
Proponho uma forma didática de perceber esses vários gatilhos que os divide em três grandes blocos:
1. Problema
De certo modo, o exemplo que dei acima pode ser encaixado nessa categoria, pois é um problema que apareceu na sua vida — ou melhor, na vida do seu filho, que é fundamental pra você.
Nós aprendemos coisas novas quase sempre que nos defrontamos com problemas novos. E não precisa ser algo grande e trágico como uma doença rara: pode ser quando não conseguimos fazer algo em uma planilha do Excel, por exemplo. Ou quando, não importa o que você faça, seu cachorro ainda não aprendeu a fazer xixi e cocô no lugar certo.
Muitos de nós nem consideramos isso que fazemos quando estamos diante de um problema como “aprendizado” de fato. Mas é. E ter consciência disso é importante para aproveitarmos ao máximo essas oportunidades.
E se você tivesse um caderno (pode ser digital) para anotar tudo que já aprendeu ao lidar com seus problemas, grandes ou pequenos? É uma ótima forma de ampliar a consciência a respeito do quanto somos capazes de aprender nesses momentos.
Quase todo mundo aprende coisas novas a partir de problemas do dia-a-dia. Não há muita inovação se você permanecer apenas nisso. Precisamos explorar outras frentes.
2. Aprimoramento
Talvez você esteja aprendendo um novo idioma — inglês, por exemplo — porque entende que isso é importante para futuros passos na carreira. Nesse caso, isso é um percurso de aprendizagem motivado por aquilo que chamo de “aprimoramento”.
O ser humano tem a capacidade de se projetar no futuro e imaginar cenários a partir do contexto. Provavelmente, no exemplo acima, você imaginou que aprender inglês vai fazer de você um profissional mais reconhecido e “completo”. Além disso, você irá desfrutar muito mais quando fizer viagens internacionais. Ou seja: você deseja se aprimorar em inglês porque isso é relevante na sua vida, seja pessoal e/ou profissional.
O gatilho do aprimoramento geralmente está em cena quando pensamos: “preciso aprender X”. No caso do gatilho “problema”, você talvez também pudesse dizer o mesmo — afinal, o problema precisa ser resolvido -, mas o fato é que frequentemente nós nem paramos pra pensar quando aprendemos diante de um problema (especialmente quando ele é urgente e pouco complexo).
A maioria das iniciativas de aprendizagem e desenvolvimento estruturadas que vejo por aí estão dentro da categoria “aprimoramento”, especialmente em organizações.
É importante? Sim. Mas, ao focar demais nesse gatilho, perdemos a oportunidade de potencializar os demais.
3. Interesse
Esse é o meu gatilho preferido. Afinal, foi ele que me trouxe até aqui — embora eu tenha vivenciado muitos problemas e aprimoramentos também.
Como seria possível aprender a partir do interesse, da curiosidade, do encantamento pela vida e pelo mundo?
Nosso interesse por aprender coisas não segue uma linha muito racional. Às vezes, você nem sabe explicar porque adora pesquisar sobre plantas de um determinado tipo. Ou o porquê da sua empolgação toda vez que se aprofunda um pouco mais na sua metodologia de facilitação favorita (já aconteceu comigo).
É curioso como a curiosidade opera. E talvez, em certos casos, não seja mesmo necessário explicar. O mais importante é seguir o fio da sua curiosidade, desenrolar esse novelo para ver até onde ele irá te levar. Às vezes, no entanto, acabamos “tropeçando” em algum significado profundo que está por trás dos nossos interesses ao aprender (falo mais sobre isso aqui).
Aprender a partir do próprio interesse de maneira consistente é uma característica comum em muitos dos grandes gênios da humanidade. É só ler as biografias para entender como muitos seres humanos que consideramos notáveis — desde Frida Kahlo até Santos Dumont, passando por Albert Einstein — seguiam rigorosamente o fio de suas curiosidades.
Credito à investigação a partir da curiosidade boa parte do que aprendi até agora sobre meus “horizontes” de estudo — dentre eles, diálogo e facilitação, aprendizagem autodirigida, hábitos, comunidades etc.
Quais são os seus horizontes?
Detalhe: não é você que escolhe suas curiosidades, são elas que escolhem você. Mas é preciso silêncio interior para escutá-las.
Problema, Aprimoramento e Interesse: os três gatilhos podem te levar a percursos de aprendizagem fascinantes.
Embora eu tenha o meu preferido, nenhum é melhor ou pior que o outro. O melhor são os três juntos.
Obs.: talvez exista um quarto gatilho, “criação”. Mas isso é papo para outro texto…