Agile Learning Centers E O Que Aprendi Sobre Não Passar Horas Em Assembleias

Conheça uma das redes de aprendizagem autodirigida que mais cresce no mundo

Alex Bretas
4 min readNov 6, 2024

Agile Learning Centers (Centros de Aprendizagem Ágil) ou ALCs são uma rede global de projetos educacionais que nasceram a partir da integração de dois movimentos: as escolas democráticas e as organizações ágeis.

O primeiro ALC surgiu na cidade de Nova York em 2013, após alguns testes com ferramentas ágeis terem sido feitos na Manhattan Free School, uma escola livre. Em seguida, o time pioneiro levou a ideia para uma incubadora de projetos de transformação social, a Emerging Leaders Labs. Com o apoio dessa iniciativa, o modelo dos ALCs se consolidou e uma rede começou a tomar forma. Novos projetos floresceram devido ao esforço de disseminação da equipe, primeiro nos Estados Unidos e depois na América Central e em outras localidades. Diversas ações como a produção de um material introdutório (chamado de Starter Kit, cujo download pode ser feito aqui, em inglês e em espanhol), um sistema de membros e cursos de formação contribuíram para essa expansão.

Em maio de 2018, ocorreu a primeira formação em aprendizagem ágil na América do Sul. E foi quase por acidente. Os equatorianos Marco e Karina estavam se organizando para irem a um curso da rede ALC que aconteceria no México, mas tiveram seus vistos negados. Decidiram, então, organizar um treinamento em seu próprio país. E foi lá que eu pude conhecer mais de perto essa abordagem.

Nossa turma do ALF (formação em aprendizagem ágil) em Quito, Equador — e uma cópia do livro Doutorado Informal no chão hehe 😂

A filosofia de aprendizagem que se pratica em um ALC é próxima do que se presencia nas escolas democráticas. Existe autonomia para que estudantes escolham quais caminhos de aprendizado querem trilhar. A tomada de decisão é compartilhada, de modo que todas as pessoas podem influenciar nos rumos coletivos. E as relações entre pessoas facilitadores e estudantes esquivam-se da hierarquia.

No entanto, há elementos culturais que diferenciam um ALC de uma iniciativa de educação democrática. O mais essencial deles, penso eu, é a crença de que decisões só se provam boas na prática. Assim, não vale a pena ficar horas discutindo qual a melhor ideia para se resolver um problema, uma vez que somente ao ser confrontada com o mundo real é que ela poderá ser realmente avaliada. Muitas escolas democráticas passam horas fazendo assembleias. E isso pode gerar frustração e desengajamento — se você já viveu esse processo, sabe do que estou falando.

Os princípios e as ferramentas ágeis entram justamente aí — eles são úteis para gerar uma cultura de experimentação constante. Em outras palavras, é possível dizer que os ALCs são comunidades de aprendizagem que aprendem.

Um exemplo de como isso acontece é a Reunião de Mudança, um ritual periódico existente em muitos ALCs e que se baseia em um suporte visual chamado Quadro de Maestria Comunitária (QMC).

Um Quadro de Maestria Comunitária em ação. Créditos: The Melicorn (blog do ALC-NYC).

A Reunião de Mudança é um momento frequente nos ALCs cujo objetivo é propor e avaliar soluções para melhorar a comunidade. É comum que a participação de todos e todas seja obrigatória (um dos únicos momentos onde isso acontece). O Quadro de Maestria Comunitária fica disponível o tempo todo e vai sendo preenchido de baixo para cima. Qualquer pessoa pode pregar nele post-its com observações sobre aquilo que precisa ser mudado.

No início da reunião — que geralmente dura menos de meia hora, o que requer uma boa facilitação e bastante foco –, todas as observações são lidas e o grupo decide qual será a pauta. Soluções são propostas para cada observação e uma delas (ou uma mistura de várias) é eleita para ser testada até a próxima reunião. Dessa forma, a solução escolhida passa para a linha de “Teste”, o que significa que agora aquilo será experimentado pelo grupo. Na reunião seguinte, a comunidade avalia a solução a partir de seus resultados reais e faz ajustes, se necessário. Se a solução é avaliada positivamente, ela sobe para a linha “Prática”, o que significa que ela se tornou parte do dia-a-dia. Em uma terceira reunião, caso a solução siga apresentando bons resultados, ela passa para a última linha do quadro, “Maestria”, o que quer dizer que, agora, ela é parte da cultura da comunidade (”como as coisas são feitas” ali).

Reuniões de Mudança devem ser rápidas para que a maior parte do tempo nos ALCs seja dedicado às atividades e aos projetos que os(as) estudantes realmente desejam se envolver em seus percursos de aprendizado.

E esse tipo de ritual pode ser utilizado não apenas em comunidades de aprendizagem, como também em qualquer agrupamento humano.

✨ Para conhecer outras práticas dessa rede fascinante, vale acessar o site dos ALCs — que está em inglês, mas você sempre pode usar o tradutor automático do Chrome e de outros navegadores.

De 2018 pra cá, muitas coisas relacionadas aos Centros de Aprendizagem Ágil aconteceram no Brasil: junto de Juliana Machado e Hugo Nóbrega, cofundei o ALC São Paulo, o primeiro ALC brasileiro. Também promovemos formações em aprendizagem ágil por aqui e tivemos o nascimento de um segundo ALC, o ALC Nature, liderado pela amiga e companheira na autodireção Su Verri.

Obs.: este post é uma versão atualizada e revista de um artigo sobre os ALCs que escrevi em 2018.

E você, já conhecia os ALCs? Já experimentou tomar decisões de maneira ágil como ocorre em uma Reunião de Mudança?

Me conta nos comentários! 🤔

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Alex Bretas
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Written by Alex Bretas

Alex Bretas é escritor, palestrante e fundador do Mol, a maior comunidade de aprendizagem autodirigida do Brasil. Saiba mais em www.alexbretas.com.

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